Resenha de "Roleta Russa" (Jason Matthews)

"O doce da espionagem russa." 

Sinopse: Desde pequena, o sonho de Dominika Egorova era fazer parte do Bolshoi, o balé mais importante da Rússia. Após ser vítima de uma sabotagem, porém, ela vê sua promissora carreira se encerrar de forma abrupta. Logo em seguida, mais um golpe: a morte inesperada do pai, seu melhor amigo.Desnorteada, Dominika cede à pressão do tio, vice-diretor do serviço secreto da Rússia, o SVR, e entra para a organização. Pouco tempo depois, é mandada à Escola de Pardais, um instituto onde homens e mulheres aprendem técnicas de sedução para fins de espionagem. Em seus primeiros meses como pardal, ela recebe uma importante missão: conquistar o americano Nathaniel Nash, um jovem agente da CIA, responsável por um dos mais influentes informantes russos que a agência já teve. O objetivo é fazê-lo revelar a identidade do traidor, que pertence ao alto escalão do SVR. Logo Dominika e Nate entram num duelo de inteligência e táticas operacionais, apimentado pela atração irresistível que sentem um pelo outro.

Vou confessar que não tenho muito costume de ler livros com a temática policial, e vocês bem sabem disso por aqui, já que acompanham tudo o que resenho. Contudo Roleta Russa tem uma coisa do policial, mas uma pegada forte na questão de espionagem entre os países, portanto entra num caminho que me agrada de todas as formas. Adoro esse tipo de premissa! 

Acompanhamos a história de Dominika, que é uma ex bailarina russa que se aposentou da carreira depois de um acidente que a deixou impossibilitada de dançar. Convidada a participar do serviço secreto por seu tio, que é tipo um chefão de negócio, a garota aceita e passa por um treinamento difícil até chegar a ser finalmente a agente bela, sexy e perigosa que eles querem dela. 

Nate é um agente da CIA, que trabalha com contra espionagem na Rússia. Ele tem um informante que passa dados importantes do governo russo para ele, e é talvez o melhor espião do lugar, e o trabalho de Nate é fazer com que nada aconteça a esse homem. Mas quando ele dá um vacilo em um dos últimos encontros dele, Nate começa a ser vigiado pelo governo russo, que resolve que está na hora de trabalhar em cima dele para poder obter informações sobre esse importante espião russo. Isso acaba colocando Dominika e seu charme na reta do agente, e o que poderia ser um lance muito perigoso para os dois, se torna em algo fatalmente sensual. 

Já vou começar dizendo que foi um livro difícil para acompanhar. Não é algo que você lê e não consegue parar, por mais fantástica que seja a narrativa do autor. São muitos fatos importantes sobre esse lance de espionagem e serviço secreto. Siglas de firmas tanto russas, como americanas, e é inevitável que você se perca um pouco durante a leitura. Isso aconteceu bastante comigo. 

Sem contar os nomes russos que são super chatinhos de decorar, e se vocês me perguntarem o nome de cinco personagens, eu certamente não irei me lembrar. Contudo não foi uma coisa que me incomodou durante a leitura, só algo que achei importante dividir com vocês. Tipo, é difícil pegar ritmo para quem não costuma ler livros policiais, mas é uma fonte fantástica de informação sobre como funciona esse lance da espionagem, e do quão complexo pode ser infiltrar ou adquirir um novo espião em países que a Guerra Fria deixou tanta animosidade. 

Acredito que o que me manteve firme nesse livro até o fim foi o relacionamento complexo e nada possível de Nate e Dominika. Achava engraçado eles se alfinetando, tentando puxar um ao outro para o próprio serviço de espionagem. Eram diálogos estranhos até para eles, quanto mais para quem estava lendo. Ambos ficavam soltando farpas e esperando que o outro caísse, mas tanto Nate como Domi eram agentes fantásticos. 

O autor também soube trabalhar o individual dos dois protagonistas, trazendo momentos do passado deles, e nos ajudando a compreender como cada um chegou até chegou. Eu amo a construção descontraída e americana de Nate, mas sou meio pé atrás com a frieza de Dominika. Acho que o autor fez um bom trabalho em descreve-la, então. 

O livro segue a todo mundo para esse ponto crucial no fim. Mesmo que olhemos para várias nuances e vários personagens que aparecem, sabemos que tudo se encaminha para aquilo, e é meio desesperador para quem está lendo. E quando o fim realmente chega, você fica de boca aperta pela ousadia bem controlada do autor, e pela capacidade de finalizar sem realmente finalizar o livro. 

Entenda que ele tem um final, mas que deixa uma brecha do tamanho do mundo para uma continuação. Andei olhando na internet e não achei vestígios de que ele pudesse escrever um outro livro terminando as histórias desses personagens. Pessoalmente acho que não existe uma possibilidade dele ficar sem continuação, mas vamos esperar para ver. 

Tirei pontos de Roleta Russa por conta da minha velocidade de leitura, mas não julgue o livro por isso. Ele foi difícil e lento para mim, mas pode ser bem rápido na mão de muitos de vocês. É um livro bem escrito e que você percebe nitidamente que o autor tem muita segurança com a parte tática e histórica de tudo, e isso é um alívio para alguém como eu, que é meio chata para livros policiais. 

Em resumo, eu gostei de verdade do livro, mas eu também espero de todo coração que exista uma continuação. A história não pode simplesmente acabar ali, no meio de uma ponte de incertezas e coisas não ditas e nunca resolvidas. 

Agora já vou dizendo que sou uma pessoa que sempre vê os dois lados da história, e aqui o autor puxa muito a lenha para os americanos, como se eles fossem os bonzinhos sempre, e nós sabemos que não é bem assim. Isso não atrapalhou minha leitura, mas essa parcialidade de fatos e fontes me deixou meio receosa. Vi os dois lados, mas o russo é sempre o lado mau. Pare bem para pensar se existe de fato um lado mau nesse tipo de guerra. Pois é, eu concordo!