Resenha de "Branca como o leite, vermelha como o sangue" (Alessandro D'Avenia)


"Totalmente irrespirável"

SinopseChega ao Brasil Branca como o leite, vermelha como o sangue, de Alessandro D’Avenia, o romance sobre o ano mais intenso na vida de um jovem, em que ele aprende a lidar com os próprios sentimentos e, consequentemente, com seu amadurecimento. Leo é um garoto de dezesseis anos como tantos: adora o papo com os amigos, o futebol, as corridas de motoneta, e vive em perfeita simbiose com seu iPod. As horas passadas na escola são uma tortura, e os professores, “uma espécie protegida que você espera ver definitivamente extinta”. Apesar de toda a rebeldia, ele tem um sonho que se chama Beatriz. E, quando descobre que ela está terrivelmente doente, Leo deverá escavar profundamente dentro de si, sangrar e renascer para a vida adulta que o espera. Um traço interessante na narrativa de D’Avenia é a técnica de utilizar cores para descrever os sentimentos e as sensações do menino Leo; por exemplo, o branco, sinônimo de solidão e silêncio: “O silêncio é branco. Na verdade, o branco é uma cor que não suporto: não tem limites. (...) Ou melhor, o branco não é sequer uma cor. Não é nada, é como o silêncio.” (p. 10) O leitor perceberá a transformação de um garoto com todas as características da juventude – rebelde, egoísta, egocêntrico – numa pessoa madura e responsável. Essa mudança começa a ser percebida quando Leo deixa de jogar o jogo decisivo do campeonato de futebol para cuidar de sua amiga doente. A convivência despertará nele o sentimento de cumplicidade e do verdadeiro amor, promoverá o debate do que é realmente o sonho e mostrará que, no crescimento emocional, é importante a presença de um orientador, um mentor.Branca como o leite, vermelha como o sangue não é apenas um romance de formação ou uma narrativa de um ano de escola: é um texto corajoso que, por meio do monólogo de Leo – ora descontraído e divertido, ora mais íntimo e atormentado –, conta o que acontece no momento em que, na vida de um adolescente, irrompem o sofrimento e o pesar, e o mundo dos adultos parece não ter nada a dizer.  (SKOOB)


Começo essa resenha depois de quase uma semana de livro lido. Queria um tempo para entender o que significou essa história para mim. Queria um tempo para ser racional e não escrever apenas movida por esse sentimento imenso de plenitude. 
Mesmo uma semana depois, o sentimento continua, e mais ainda, uma sensação de que não é só por um momento, que ele permanecerá grudado ao meu corpo liso e áspero como não imaginei de forma alguma que ele seria. 

Conhecemos a história de Leo, um adolescente que tem uma vida normal. Joga bola, sai para comer com os amigos e ri das piadas bobas dos outros. Só que Leo tem uma peculiaridade que quase ninguém conhece: Ele é fanático por cores e odeia de coração a cor branca. 

O silêncio é branco. Na verdade, o branco é uma cor que não suporto: não tem limites. Virar a noite em branco; passar em branco; levantar bandeira branca; deixar o papel em branco; ter cabelo branco… Ou melhor, o branco não é sequer uma cor. Não é nada, é como o silêncio. Um nada sem palavras e sem música. Em silêncio: em branco.

Tudo na vida de Leo ele associa com cores: Sentimentos, momentos, pessoas. Eu achei isso de uma poesia tremenda!

O garoto é totalmente apaixonado por Beatriz, uma menina que tem cabelos vermelhos e que estuda na mesma escola que ele. Apesar de nunca ter conversado com a garota, ele julga que é amor pra toda a vida. (Adoro o mundo dos adolescentes!)

Silvia e Niko são seus grandes amigos, e sinceramente, fazia tempo que não me agraciava de uma amizade tão serena e singular como essa que ele tem com os dois garotos. Outro personagem fantástico que vale ser lembrado é o professor de história deles, o qual eles chamam de sonhador, porque o cara é realmente O CARA!

Leo, sempre que pode, tenta mostrar a Beatriz o quanto gosta dela, mas toda vez que ele tenta, algo dá errado. Ele fica nesse vai e vem até descobrir que a menina esta muito doente, e é ai que o mundo de Leo desaba. 

D'Avenia traz uma história nem tanto incomum, mas cercada de uma escrita magistral e ascendente. Senti cada sentimento de Leo, sorri com o humor negro dele, chorei quando ele entrou em desespero. Fui esse personagem por todo o tempo em que li o livro. Sinto que agora o sangue de Leo corre em minhas veias também, e nada é mais o mesmo. 

Fiquei encantada com a facilidade com a qual o autor fala sobre esse mundo de adolescentes. Mas é até compreensível, visto que o próprio D'Avenia, também é um professor de adolescentes. Fica fácil falar sobre o que se conhece, e ele foi divino nisso. 

"Por exemplo, quando tento escrever 'desculpe', a palavra que aparece é 'medo'. É uma coincidência curiosa, porque, quando devo pedir desculpas por alguma coisa, tenho sempre muito medo." 

O Sonhador, personagem que faz a vez de professor dos garotos, é um daqueles que todo mundo queria ter. É um professor dentro e fora da sala de aula. É um professor que te visita quando você não está bem, que manda torpedo e que te faz pensar e tira o melhor de você sendo duro e doce e sincero e bruto ao mesmo tempo. 

"O Sonhador diz que os desejos têm a ver com as estrelas: de + sidera, que significa 'estrelas' em latim. Tudo lorota! O único jeito de ver estrelas não é desejar, mas levar um tombo." 

Falo sempre por aqui que adoro histórias que tenham jovens como personagens principais, e jovens que não tenham super poderes ou que não vivam em um mundo distópico, ganham meu coração milhões de vezes mais. 

Eu acho a nossa vida muito mágica, então ela pode ser uma ótima história de qualquer ponto de vista que se olhar. O autor conseguiu captar essa ideia, e com um dom nato de declamar emoções em forma de ações, ele criou esse personagem transparente, que é o Leo, e criou todo o universo a sua volta, que é igualmente, transparente. 

"Quanta dor você se poupa enquanto dorme. O problema é quando você acorda"

Me emocionei absurdamente lendo esse livro. Tive momentos de fechar e procurar outra coisa para fazer porque eu estava absorta com a poesia da escrita. Já vou avisando que não é um livro para ser lido em um dia, é um livro para ser degustado pelo maior tempo em que se consiga, porque ele é doce, e é amargo e depois desce como Whisky e se acomoda no estômago formando bolhas ardentes no fundo da garganta e tornando difícil respirar.  

"Hoje a tristeza está entrando em ondas no meu  quarto. Tento represá-la com uma esponja. Estou ridículo. Resisto alguns minutos, depois o medo sobe, e sou um náufrago no meio de um oceano de solidão." 

Fiquei impaciente com Leo lá pro final da história. Não conseguia entender como ele pôde mudar de opinião tão rápido sobre algumas coisas, mas daí lembrei que quando eu era adolescente, eu tinha uma banda predileta por semana, e isso é mais comum do que se imagina. Até que comparado a mim, Leo é um menino muito seguro do que faz e do que quer.  

"Uma vez eu li num livro que o amor não existe para nos fazer felizes, mas para demonstrar o quanto é grande a nossa capacidade de suportar a dor."


Quero que meu filho seja assim, justamente assim: Que solte a bicicleta em uma ladeira e que freie apenas quando seu coração atingir o máximo de adrenalina possível. Quero que ele coma quantos sanduíches forem necessários para ganhar uma aposta, quero que ele se apaixone tão intensamente que não lembre porque se apaixonou. Quero que ele jogue bola como se fosse a última partida, e que brigue com os professores por não concordar com o que eles dizem. Quero que ele faça uma boa ação simplesmente por fazer. Quero que ele veja cores no vazio, e vazio em muitas cores. 

Preciso dizer o quanto gostei desse livro? O quanto ele me mudou? 

Me sinto multicolorida e isso é completamente irracional. E não vejo problema algum na irracionalidade. 

Foi feito um filme, mas ainda não chegou por aqui, e acredito que oficialmente nem irá chegar.Mesmo assim, curtam o trailer.