Resenha de "O Príncipe da Névoa" (Carlos Ruiz Zafón)




"Já disse que esse autor é gênio?"


Sinopse: A nova casa dos Carver é cercada por mistério. Ela ainda respira o espírito de Jacob, filho dos ex-proprietários, que se afogou. As estranhas circunstâncias de sua morte só começam a se esclarecer com o aparecimento de um personagem do mal - o Príncipe da Névoa, capaz de conceder qualquer desejo de uma pessoa, a um alto preço. (SKOOB)










Quando fui ler a justificativa do autor para escrever esse livro, ela é clara: "Queria escrever um livro que eu gostaria de ler com catorze anos, e que ainda assim, permanecesse em mim quando eu fosse adulto." E é com muito orgulho que digo que ele conseguiu, como sempre. 

O livro conta a história de uma família que estão fugindo das proximidades da guerra, e compram uma casa de praia muito antiga. A casa era de uma família que perdeu a única razão de sua vida, o filho, afogado e desde então caíram em desgraça. 



Max está no começo da adolescência, e não tem muitos problemas em enfrentar as coisas. Alicia é um pouco mais velha do que o irmão, e parece se abusar com muita frequência. A mãe é uma dona de casa centrada, o pai é um relojoeiro sonhador. A irmã mais nova quer abraçar o mundo com seus pequenos abraços e uma esperta significativa. Enfim, uma família super ajustada aos parâmetros normais. 

Eis que Max arranjar um amigo, Roland. O neto do faroleiro e um aventureiro, como ele. Ao mesmo tempo que coisas estranhas começam a acontecer com a família. Gatos esquisitos, personagens de circo misteriosos, uma névoa que parece sempre ser prenúncio de coisas ruins e relógios que andam para trás. 

Bom, você nota nitidamente que esse é um dos primeiros escritos de Zafón. A escrita é mais simples, e a contextualização também; mas aquela magia dos livros dele, aquela que você vê em A Sombra do Vento, continua lá. No início, mas latente e resistente. 


Como é característica do autor, ele criou um mundo sombrio nos fundos da história principal, e elas acabam se entrelaçando em algum momento. Ele tem sempre essa coisa de sair pegando histórias isoladas e unindo  ao ponto de ficarem tão unidas, que nos sentimos bobos por não termos pensado nisso antes. 

Os vilões de Zafon sempre foram fantásticos! São daqueles que se imaginam sobrenaturais, mas são tão humanos e sofridos como você ou eu. Já nesse livro, bom, a coisa muda um pouco de figura. É a primeira vez que um vilão sobrenatural é um vilão sobrenatural. 

Me assustei horrores com algumas passagens, e de certo que não lia o livro antes de dormir. Talvez de todos os livros dele, esse tenha me pego de jeito no quesito susto, mas acho que seja porque eu nunca fui com a cara de palhaços. Tem uma cena com um guarda-roupa, que vou te contar, heim! rsrs


Zafon tem um dom de escrita muito peculiar, e muito amado por mim. O enredo não era lá essa coisa magistral. Tiveram alguns pontos de falhas, algumas coisas pouco explicadas, e outras tantas sem lógica. Mas isso é literatura, não telejornal, e os pontos negativos se apagam totalmente quando encontro passagens fantasticamente bem construidas, como temos nesse livro.

Max e Roland são exploradores. Estão ali sempre para desvendar os mistérios que cercam toda essa história da casa da praia e o cemitério de estátuas, e realmente se saem muito bem no que fazem. Alicia é a peça centrada e apaziguadora da história. A isca. 

O final, apesar de ter me  irritado em alguns momentos, foi o que o livro pedia, e nada diferente do que esperaria de Zafón, apesar da minha tristeza. As criações de peças chaves que o autor fez para essa história, dão vida a um enredo aparentemente bobo, mas com toque suficiente de Zafón para ser genial. 

Enfim, talvez não agrade gregos e troianos, principalmente se você está esperando algo no nível de a Sombra do Vento, mas eu gostei bastante desse livro, e não  poderia deixar de indicá-lo, não é? Principalmente por ser Zafón.