O segredo de Brockeback Mountain (Annie Proulx)
“Por
essa época Jack começou a aparecer em seus sonhos, Jack como era da primeira
vez em que o vira, cacheado, sorridente e dentuço, falando em deixar de
preguiça e assumir o controle, mas a lata de feijão com o cabo da colher para
fora e equilibrada na tora de madeira também estava ali, com o formato
caricatural e as cores gritantes que conferem aos sonhos um sabor de
obscenidade cômica. O cabo da colher era do tipo que se podia usar como uma
chave de roda. E às vezes ele acordava triste, às vezes com a antiga sensação
de alegria e alívio; às vezes com o travesseiro molhado, às vezes com o lençol.
Havia um espaço aberto entre aquilo que ele sabia e aquilo que tentava
acreditar, mas nada se podia fazer a respeito, e, se não dá para consertar, a
gente tem que aguentar”.